segunda-feira, 28 de março de 2011

DA RELIGIÃO AOS OVOS DE CHOCOLATE, A HISTÓRIA DA PÁSCOA ATÉ OS DIAS DE HOJE


Que coelhos e ovos são elementos simbólicos importantes, todo mundo já sabe, mas a Páscoa representa muito mais do que isso. Essencialmente religiosa, a festa celebra a ressurreição de Jesus Cristo e, por isso, é, junto com o Natal, o dia santo mais importante para os cristãos. Provavelmente agora você lembrou também das missas, procissões e encenações da Paixão e Morte de Cristo, rituais religiosos que marcam a Semana Santa.

Mas embora estes sejam rituais do Cristianismo, muitos dos costumes que ainda hoje fazem parte das celebrações da Páscoa têm origem no Pessach, a Páscoa Judaica, e também em festivais pagãos realizados na Europa. Mas como a ressurreição de Cristo, que representa a reunificação do espírito e do corpo do filho de Deus, tem relação com essas outras celebrações? Para entender é preciso conhecer melhor a história destes povos e suas festas e crenças.

O Pessach, uma das mais importantes festas do calendário judaico, é uma celebração que se estende por oito dias e comemora a libertação dos judeus que trabalhavam como escravos no Egito, fato que ocorreu durante o reinado do faraó Ramsés II. Para os judeus, a Páscoa significa passagem. Semelhança no nome, no sentido – como para os cristãos é a celebração de uma nova vida, não deixa de ser uma passagem – e também nos fatos e nas datas.

Judeu, Jesus Cristo respeitava os costumes de sua religião e a Última Ceia partilhada com seus discípulos acredita-se ter sido um Seder de Pessach – refeição ritual parte da festividade judaica. Mesmo o Evangelho de João, que propõe uma cronologia distinta, associa a Última Ceia ao Pessach. Segundo ele, teria acontecido um pouco antes desta festividade.

Diz São Paulo: "Purificai-vos do velho fermento, para que sejais massa nova, porque sois pães ázimos, porquanto Cristo, nossa Páscoa, foi imolado." (1Co. 5:7). Jesus Cristo é tido como o Cordeiro de Deus que foi imolado para salvação e libertação de todos os pecados e, por isso, Deus teria designado sua morte exatamente no dia da Páscoa Judaica para criar o paralelo entre a aliança antiga, no sangue do cordeiro imolado, e a nova aliança, no sangue do próprio Jesus imolado.

Uma data móvel

Voltando ao calendário, talvez você não saiba o porquê, mas certamente já se perguntou qual a razão para a data da Páscoa mudar de ano para ano. Embora seja a celebração de um fato específico – a ressurreição de Cristo – até o ano 325 não havia uma data específica para as comemorações da Semana Santa. A definição foi uma iniciativa do Imperador Constantino I, que sugeriu que o Papa Gregório XIII aproveitasse um encontro de líderes religiosos em Nicéia (atual Turquia) para fixar uma data oficial de comemoração.

Durante o Concílio de Nicéia houve a primeira tentativa, mas só no século XVI – com a adoção do calendário gregoriano – as dificuldades de se precisar a data da Páscoa foram amenizadas. Ficou definido que a Páscoa seria celebrada no primeiro domingo após a primeira lua cheia que ocorre depois do equinócio da primavera no Hemisfério Norte (outono no Hemisfério Sul), entre 22 de março e 25 de abril. E é justamente esta definição que leva às festas pagãs na Europa, a outra influência nos rituais de Páscoa.

Na antiguidade, para os povos que lá viviam, o fim do inverno e o começo da primavera era motivo de comemoração. Como não havia estrutura para enfrentar o inverno rigoroso, a estação era marcada pela escassez de alimentos e por inúmeras mortes, enquanto a primavera representava o renascer da vida. Por tudo isso, cultuava-se Eostre, deusa da primavera. Em homenagem a ela eram realizadas festa na primeira lua cheia da estação. Acredita-se, inclusive, que, com a evolução da língua, Eoster tornou-se easter e ostern, palavras escolhidas, em inglês e alemão, respectivamente, para dar nome à Páscoa.

O início da vida

Se o dia muda a cada ano, será que o sentido da Páscoa tem mudado ao longo dos anos? Os corredores de supermercado abarrotados de ovos costumam levantar a questão: será que a celebração religiosa da data foi relegada a um segundo plano? Não exatamente. Os símbolos de Páscoa que abrem este texto (ovos de chocolate e coelhos) representam, mais do que o consumismo moderno desenfreado, a própria origem da data.

A tradição de oferecer ovos veio da China. Séculos atrás os orientais se preocupavam em envolver ovos naturais em cascas de cebola, cozinhando-os com beterraba. Dessa forma, ao serem retirados da água quente eles apresentavam desenhos nas cascas. O costume de presentear ovos chegou ao Egito e à Pérsia e as pessoas passaram a tingir os ovos para presentear amigos nas festas da primavera. O presente simbolizava o início da vida.

Um ritual importante ocorria no equinócio da primavera na Europa, onde os participantes pintavam e decoravam ovos (símbolo da fertilidade) e os escondiam e enterravam em tocas nos campos. Após a conversão dos pagãos germânicos, estes resquícios culturais da festividade de primavera em honra de Eostre foram assimilados às celebrações cristãs.



Ainda hoje, em vários países europeus, existe a crença de que comer ovos no domingo de Páscoa traz saúde e sorte durante todo o resto do ano. Já o hábito de trocar ovos de chocolate é mais recente. Surgiu na no século XVIII, quando confeiteiros franceses tiveram a ideia de fazer os ovos com chocolate – iguaria que aparecera apenas dois séculos antes na Europa, vinda da então recém-descoberta América.

Fertilidade

A origem da imagem do coelho na Páscoa está ligada à fertilidade, já que é um animal que costuma ter grande prole. No antigo Egito, o coelho simbolizava o nascimento e a nova vida. Alguns povos da Antiguidade o consideravam o símbolo da lua. É possível que ele se tenha tornado símbolo pascal devido ao fato de a lua determinar a data da Páscoa. A tradição do coelho da Páscoa foi trazida à América por imigrantes alemães em meados de 1700. Diz a lenda que uma mulher pobre, que não tinha como presentear seus filhos no domingo de Páscoa, cozinhou, pintou e colocou ovos de galinha dentro de um ninho escondido no quintal. Quando as crianças encontraram os ovos, um coelho apareceu por perto e fugiu.

Existem ainda alguns símbolos que marcam a comemoração da Páscoa e que têm significados essencialmente religiosos, como a Colomba Pascal. O pão em formato de uma pomba, criado por um confeiteiro do Norte na Itália, representa a vinda do Espírito Santo sobre os povos cristãos e é um símbolo de paz. E, afinal, independente das iguarias servidas, das brincadeiras feitas ou dos rituais religiosos seguidos, a paz está intrinsecamente presente nos votos de feliz Páscoa. A propósito, feliz Páscoa para você!



DATAS MÓVEIS QUE DEPENDEM DA PÁSCOA:

Terça-Feira de Carnaval – 47 dias antes da Páscoa

Quaresma - inicia na Quarta-feira de Cinzas e termina no Domingo de Ramos (uma semana antes da Páscoa)

Domingo de Ramos – uma semana antes da Páscoa

Ascensão do Senhor – o sexto domingo após a Páscoa

Pentecostes – sétimo domingo após a Páscoa

Santíssima Trindade – domingo após o Pentecostes

Corpus Christi – a quinta-feira imediatamente após o domingo da Santíssima Trindade