Em tempos de
mudança climática vemos que os desastres estão ficando mais sérios, porque são
mais frequentes do que antes. Diz o prefeito de Timbó, "em seis anos de
mandato, quatro enchentes de grande porte atingiram nosso
município."
As chuvas de mais
de 300 mm = acima de 300 L/m2 em menos de dois
dias, no planalto norte de Santa Catarina e também no vale do rio Benedito, no
vale do Itajaí, são algo alarmante. Para recordar, em 2008 caíram 500 mm = 500
L/m2 em dois dias. Gerou aquela catástrofe, e agora novos
valores elevados de precipitação e danos materiais são verificados.
Já não podemos mais evitar a mudança
climática. Temos que nos adaptar a ela. Estamos em tempo de aprender a
Adaptação Baseada nos Ecossistemas (ABE) - palavras estranhas que logo deverão
entrar no vocabulário diário dos planejadores e fazedores de política - isto é,
devemos procurar nos adaptar aos tempos de mudanças, pois a previsão é de
que até 2040 a temperatura média no Sul do país aumente de 2 a 4 graus e as
chuvas aumentem entre 5 a 10%, na forma de chuvas intensas e irregulares (dados
de Jose Marengo, do INPE). Estas mudanças têm implicações na agricultura, nos
transportes, na saúde, e também na ocorrência de eventos extremos e,
portanto, muitas pessoas e comunidades irão perder e sofrer.
Como adaptar-se a estas mudanças? O
Ministério do Meio Ambiente, em cooperação com o Ministério do Meio Ambiente da
Alemanha, está desenvolvendo o Projeto Biodiversidade e Mudanças Climáticas,
que aplicará 62 milhões de reais, cujos
objetivos abrangem a inserção da adaptação às mudanças climáticas nas
políticas públicas brasileiras. A metodologia que estás sendo divulgada para
promover esta adaptação é chamada internacionalmente de AbE - Adaptação baseada
em Ecossistemas. Não é difícil; ela trata de olhar o futuro por meio dos
"óculos climáticos", e a partir disso busca promover políticas mais
sustentáveis, ampliando e potencializando os serviços ambientais.
A região Sul do Brasil terá cada vez mais
intensos e frequentes eventos de chuvas torrenciais, com consequentes
enxurradas e enchentes violentas e em níveis não comuns, além de vendavais e
granizos, bem como secas, ou seja momentos de intensas mudanças. Que medidas os
municípios e estados podem aplicar para reduzir o potencial de danos? Isso
precisa ser discutido e definido em cada plano diretor, em cada plano de
desenvolvimento, em cada projeto público ou particular, levando à inclusão de
medidas adaptativas, isto é, que atenuam os efeitos das mudanças sobre as
cidades e sistemas.
Na
prática, a adaptação vai nos levar a não reduzir a distância dos cursos d'água
previstos pelo código florestal para as áreas rurais e urbanas - seria atirar
as pessoas e as culturas dentro de um rio ou ribeirão com intensa enxurrada
(uma irresponsabilidade).
A adaptação vai nos levar a não reduzir nem
proibir a criação de novas unidades de conservação - tais como parques
nacionais, reservas entre outros... isso seria destruir o cobertor que nos
protege e protegerá;
A adaptação vai exigir gestores e cidadãos
que conheçam mais e mais os serviços ecossistêmicos e protejam as Unidades de
Conservação já criadas e demais áreas florestais naturais, pois são elas que
oferecem os serviços ecossistêmicos;
A adaptação vai exigir gestores de meio
ambiente dos municípios, estados e união que não cedem as margens dos córregos,
as encostas e áreas verdes nas cidades à especulação imobiliária, pois cada
mancha de floresta será nossa proteção nas ondas de calor, nos momentos de seca
e nos períodos de chuva intensa, pois a questão é: como podemos nos proteger
melhor das secas e das chuvas intensas?
A adaptação vai exigir cabeças menos
consumistas, pois precisamos frear este danoso consumo de supérfluos que move
uma indústria de supérfluos.
O tempo agora é o de árvores
na cabeça, como mostrou o artista o qual desconhecemos.
Texto de Dra. Lucia Sevegnani.
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A foto da enchente na várzea no
Garcia é de autoria de Lucia Sevegnani.
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