sexta-feira, 13 de junho de 2014

ÓCULOS CLIMÁTICOS

Em tempos de mudança climática vemos que os desastres estão ficando mais sérios, porque são mais frequentes do que antes. Diz o prefeito de Timbó, "em seis anos de mandato, quatro enchentes de grande porte atingiram nosso município." 
As chuvas de mais de 300 mm  = acima de 300 L/m2  em menos de dois dias, no planalto norte de Santa Catarina e também no vale do rio Benedito, no vale do Itajaí, são algo alarmante. Para recordar, em 2008 caíram 500 mm = 500 L/m2  em dois dias. Gerou aquela catástrofe, e agora novos valores elevados de precipitação e danos materiais são verificados.
Já não podemos mais evitar a mudança climática. Temos que nos adaptar a ela. Estamos em tempo de aprender a Adaptação Baseada nos Ecossistemas (ABE) - palavras estranhas que logo deverão entrar no vocabulário diário dos planejadores e fazedores de política - isto é, devemos procurar nos adaptar aos tempos de mudanças, pois a previsão  é de que até 2040 a temperatura média no Sul do país aumente de 2 a 4 graus e as chuvas aumentem entre 5 a 10%, na forma de chuvas intensas e irregulares (dados de Jose Marengo, do INPE). Estas mudanças têm implicações na agricultura, nos transportes, na saúde, e também na ocorrência de eventos extremos e, portanto, muitas pessoas e comunidades irão perder e sofrer.
Como adaptar-se a estas mudanças? O Ministério do Meio Ambiente, em cooperação com o Ministério do Meio Ambiente da Alemanha, está desenvolvendo o Projeto Biodiversidade e Mudanças Climáticas, que aplicará 62 milhões de reais, cujos  objetivos abrangem a inserção da adaptação às mudanças climáticas nas políticas públicas brasileiras. A metodologia que estás sendo divulgada para promover esta adaptação é chamada internacionalmente de AbE - Adaptação baseada em Ecossistemas. Não é difícil; ela trata de olhar o futuro por meio dos "óculos climáticos", e a partir disso busca promover políticas mais sustentáveis, ampliando e potencializando os serviços ambientais.
A região Sul do Brasil terá cada vez mais intensos e frequentes eventos de chuvas torrenciais, com consequentes enxurradas e enchentes violentas e em níveis não comuns, além de vendavais e granizos, bem como secas, ou seja momentos de intensas mudanças. Que medidas os municípios e estados podem aplicar para reduzir o potencial de danos? Isso precisa ser discutido e definido em cada plano diretor, em cada plano de desenvolvimento, em cada projeto público ou particular, levando à inclusão de medidas adaptativas, isto é, que atenuam os efeitos das mudanças sobre as cidades e sistemas.
Na prática, a adaptação vai nos levar a não reduzir a distância dos cursos d'água previstos pelo código florestal para as áreas rurais e urbanas - seria atirar as pessoas e as culturas dentro de um rio ou ribeirão com intensa enxurrada (uma irresponsabilidade).
A adaptação vai nos levar a não reduzir nem proibir a criação de novas unidades de conservação - tais como parques nacionais, reservas entre outros... isso seria destruir o cobertor que nos protege e protegerá;
A adaptação vai exigir gestores e cidadãos que conheçam mais e mais os serviços ecossistêmicos e protejam as Unidades de Conservação já criadas e demais áreas florestais naturais, pois são elas que oferecem os serviços ecossistêmicos;
A adaptação vai exigir gestores de meio ambiente dos municípios, estados e união que não cedem as margens dos córregos, as encostas e áreas verdes nas cidades à especulação imobiliária, pois cada mancha de floresta será nossa proteção nas ondas de calor, nos momentos de seca e nos períodos de chuva intensa, pois a questão é: como podemos nos proteger melhor das secas e das chuvas intensas?
A adaptação vai exigir cabeças menos consumistas, pois precisamos frear este danoso consumo de supérfluos que move uma indústria de supérfluos.
O tempo agora é o de árvores na cabeça, como mostrou o artista o qual desconhecemos.


Texto de Dra. Lucia Sevegnani.
A foto da enchente na várzea no Garcia é de autoria de Lucia Sevegnani. 


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